Essa semana foi difícil vir escrever sobre esse assunto.
Acontece que para essa semana eu havia me preparado com
outro tema, mas eu não consegui concluir. E se eu não realizei a experiência, não
posso falar sobre ela. E me frustro.
A frustração não vem apenas de não cumprir o previsto, de não
realizar a ação em si. A
frustração vem de mim mesma, de uma culpa íntima e estúpida que não deveria
estar aqui dentro de mim.
A história é que eu venho com o passar dos anos me
policiando na “arte de dizer não”. É uma arte muito complicada para aqueles que,
como eu, são aficionados em arranjar tarefas a cumprir. A gente quer fazer
tudo. Se não quer fazer tudo, ao menos quer resolver tudo. Quer vestir a roupa
de super-herói e brigar com o tempo.
Você reconhece essas pessoas facilmente, pelo jeito abatido
e cansado, pelo discurso que oscila entre reclamão e otimista, pelas broncas
sobre organização. E é claro, elas nem sempre fazem tudo bem, mas incrivelmente
conseguem admiradores que acreditam que elas são capazes de fazer tudo (ou
muito).
Não se engane! E se você é uma dessas pessoas, pare de
enganar a si mesmo.
Eu sei, porque sou uma dessas.
Mas há tempos eu decidi mudar isso para “eu era uma dessas”.
Só que perco o controle de vez em quando, ainda.
Semana passada, nas correrias da vida, precisava marcar com
o grupo um ensaio para a filmagem de uma coreografia. Não somos profissionais
da dança, então precisamos encontrar um caminho no cotidiano, em nossa vida de
mulher-filha-mãe-companheira-trabalhadora-estudante, e um lugar para nos
encontrarmos. Nem sempre o momento é o mesmo para todas. E o momento não foi
para mim pelo destino.
Era um dia em que eu havia dito que não podia. Mas, quando
vi o e-mail pela manhã devo ter visto reluzir o uniforme de super-heroína
dobrado ao lado das calcinhas. Só pode. E eu decidi que aquele era o dia para
uma emoção e usar o uniforme novamente.
Pode ter sido que o destino decidiu testar minhas convicções
e ficou rindo da minha cara no final da noite, ou talvez eu tenha estado fora
de forma para meus superpoderes. A fatalidade é que eu fiz tudo que estava ao
meu alcance para estar por míseros minutos naquele ensaio, e que eu não contei
com minha própria falta de astúcia. Eu decidi que poderia suar meus
superpoderes de força e empurrar a porta de vidro trancada. Acontece que minha
força não foi suficiente para abri-la, mas suficiente para não me permitir
frear e não me chocar de cara nela.
Ai!
E o que aconteceu, Lili?
Eu ao consegui ensaiar direito, porque meu rosto latejava e
fiquei enjoada. Eu me atrapalhei com os compromissos. Tive que desistir de
cumprir minha experiência da semana. Passei e estou passando os dias com um
lindo corte no nariz, dor e roxos. Estou com dor na alma, e brava comigo mesma.
Brava comigo mesma por uma culpa que não é minha (e também é). Brava comigo
pela fatalidade, quando eu deveria estar brava por não ter vestido o uniforme e
ter aceitado que eu não poderia ir.
Que você não deve exigir mais do que pode, que dizer não é
importante, que é preciso escolher quando as opções são simultâneas.
E aqui estou, hoje escrevendo sobre frustrar-me na tentativa
de reforçar em mim mesma a necessidade e importância de também dizer não. Porque
dizer não significa colocar limites. E nem todos os limites são ruins.
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