2.6.12

Dino por Martha Medeiros

Essa semana foi meio estranha. No entanto, também foi uma semana cheia de reflexões. Daquelas que no meio da noite você se pega meio desperta/meio acordada pensando em algo e conversa com sua própria mente "Esquece isso e vai dormir. Ou amanhã estarás podre!".

E aí, deu vontade agora, antes de voltar a labuta, de ler um pouco de Martha. E de compartilhar um pouco de Martha Medeiros.
Essa crônica está no livro Feliz por nada que eu ganhei de formatura de uma amigona, a Kênia (que de vez em quando passa aqui pra ler minhas esquisitices).



Dinos - 6 de abril de 2011

É um mundo estranho, esse. De repente, começaram a ser apresentados fósseis de animais pré-históricos descobertos recentemente no Rio Grande do Sul. Parece até coisa de novela. Primeiro foram as ossadas encontradas em São Gabriel, agora as de Dona Francisca. E eu que achava que os nossos mais antigos ancestrais foram os açorianos. Pois soube agora que tivemos tiarajudens e decuriasuchus residentes. Tivemos, e ainda temos.

Estou só esperando tocarem a campainha aqui de casa. Posso imaginar os paleontólogos entrando com suas escovinhas e pás, buscando embaixo do meu porcelanato algum resíduo de esqueleto. "Soubemos que dinossauros habitaram esse pedaço de chão milhões de anos atrás, exatamente aqui, onde a senhora vive". E eu responderei muito circunspecta: "Habitaram, não. Habita ainda. Muito prazer".

Sou uma dinossaura gaúcha.

Outro dia, num encontro entre amigas, me xingaram por não estar no Facebook. Em vez de uma liberdade de escolha, consideraram minha ausência uma afronta. Não estar no Facebook significa que você é uma esnobe com mania de ser diferente. Mas não é nada disso, tenho um bom argumento de defesa: é que me sinto obrigada a dar retorno a todos os contatos que recebo e, se entrar no Facebook, somando os e-mails que recebo (sim, emails - é condizente com minha espécie) não terei paz. Sou uma dinossaura. Relevem.

Eu ainda uso aparelho celular com teclas. Poderia ter um iPad, um tablet ou qualquer outro equipamento de última geração lançado dois minutos atrás, mas gosto do meu telefone simplificado, que só serve para fazer e receber chamadas e torpedos (eu ainda chamo de torpedo, e não de SMS). 

Não leio mensagens fora de casa. Dinossaura.

Recentemente me convocaram para entrevistar a atriz Patrícia Pillar. A revista que me contratou me ofereceu um gravador. Aceitei. E pedi: não esqueçam de mandar as fitas! É um mistério terem mantido a missão que me confiaram. Gravador digital era coisa que eu ainda não tinha manuseado. 

Poderia ter gravado a conversa pelo celular também. Mas vocês sabem: não se extraem os resíduos paleolíticos do DNA assim, no mais.

Outro dia contei pro escritor Fabrício Carpinejar que, quando estou no escuro do cinema, durante a projeção, costumo anotar nas folhas do talão de cheque as frases que me tocam durante o filme. Ele ficou bege. "Tu usa cheque???"

E ainda acredito no amor. Podem me empalhar


Sou beeeeem mais nova que tu, Martha. Não te preocupes, do jeito que as coisas vão ainda também podem me empalhar. Não curto celular sem teclas, gosto de ver VHS, ainda escuto fitas, adoro jogos de tabuleiro e acredito no amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
Minima Color Base por Layous Ceu Azul & Blogger Team