17.6.12

[Resenha] Evangelho segundo Jesus Cristo



Primeiro comentário: amei!

Eu tenho uma história engraçada com José Saramago, igual a relação que tive com Machado de Assis. Eu não gostei muito do primeiro livro dele que li. Foi na época do colégio, eu que escolhi e achei que o grupo fosse me bater. Memoriais do convento.
Aí eu comecei a ler outros livros dele e tudo mudou. Acho que deveria retornar ao Memorial inclusive. Talvez tenha sido um mal momento para lê-lo.

Com relação ao Evangelho segundo Jesus Cristo, é um livro que minha tia ganhou e nunca leu (sim, estou dedurando). Ela tinha uma certa preguiça com o português Saramago. E o livro veio aqui pra casa no promessa de ser lido, e nunca foi. Aí veio a história de participar dos 7 clássicos em 2012 e eu acabei escolhendo ele para compor minha lista.
Sem arrependimento algum.

Nessa brilhante versão de Saramago conhecemos a história bíblica de Jesus Cristo desde o dia de sua concepção até a sua morte. 
E lá estão os personagens bíblicos, as passagens dos milagres, os apóstolos, Maria e José, Maria Madalena... Afinal, o que há nessa história para ele perder tempo reescrevendo?
Grande parte do livro está centrada no Jesus antes de saber que é o filho de Deus (sim, ele é o filho de Deus mesmo). Em como José e Maria saíram de Nazaré para fazer um recenseamento lá em Belém, onde veio nascer Jesus. 
Também ficamos sabendo das angustias que José vivenciou ao longo da sua vida após o nascimento de seu primogênito que motivaram Jesus a deixar a casa após sua morte e reencontrar o anjo que avisou Maria da sua vinda.

Chegamos a melhor parte da história, os caminhos percorridos e os momentos vivenciados por Jesus da saída da sua casa até o momento em que fica sabendo ser filho de Deus.
Saramago vai a fundo nas angústias de um rapaz correto na palavra de Deus que se vê em situações de desespero, no desespero de um jovem homem que descobre seu destino e o destino dos homens. Sim, é aí que está toda a marca de Saramago, na minha opinião, nos conflitos e sentimentos de Jesus.

A escrita é aquela característica dele, com longos parágrafos onde você perde o início e o fim. Embora eu tenha achado que havia muitos capítulos curtos comparado a outros livros. E ele conseguia trazer aquela veia cômica nas frases mais simples ao narrar o comportamento dos homens há quatro mil anos atrás.

"(...) À hora da morte hão-de pedir contas ao varão por cada conversa desnecessária que tiver tido com sua mulher. Interrogou-se José sobre se esta conversa com Maria poderia ser contada no número das necessárias (...)"

Esse é um livro para ser lido por todos, independente da religião, para repensarmos em nossas crenças (não necessariamente divinas), mas nas crenças de nossas ações diárias. Afinal, Saramago foi um escritor que via fundo na nossa alma de humano.

"Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez."



Este post relaciona-se ao Desafio Literário: 7 clássicos em 2012.

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