10.7.12

[Resenha] Você é um animal, Viskovitz!


Você é biólogo ou bióloga? Professor de Ciências? Então já vai tarde comprar o livro.
Sim, não basta ler. Você vai grudar nele o resto da vida.

Aos demais, é uma experiência ótima para quem está no colégio ou quer relembrar alguns aspectos zoológicos da época escolar.
Não se encaixou em nenhum dos casos? Para quem quer se divertir um pouco.

Alessandro Boffa é um russo filho de pais italianos que foi biólogo. Nesse livro, traz em cada conto o personagem Viskovitz como um animal diferente envolvido em questões bem humanas. 
O que pode atrapalhar a leitura se você já esqueceu das aulas de biologia são alguns termos científicos com os quais ele brinca.

"Com a rádula acariciei delicadamente o exóstoma, com a parte distal do pé toquei a proximal. Senti a cálida pressão do rinóforo que se insinuava sob a concha, e uma forte comoção me imobilizou no centro do ser. (...)"
pág. 24  - Mas você nunca pensa em sexo, Viskovitz?

Depois desse trecho você desistiu? Calma, dentro do contexto dessa história você vai entender tudo. Tenho certeza. 

Tem de tudo nesse livro. Um prato cheio para a diversão. Para um gostinho de quero mais, vou transcrever um dos contos que é curtinho.

Você está perdendo a cabela, Viskovitz.

"Como era o papai", perguntei à minha mamãe. 
"Crocante, um pouco salgado, rico em fibras."
"Antes que você o comesse, quero dizer."
"Era um sujeitinho inseguro, ansioso, neurótico, mais ou menos como vocês todos, os machinhos, Visko."
Mais do que nunca, eu me sentia próximo daquele genitor que não conhecera, que havia se dissolvido no estômago de mamãe enquanto eu era concebido. De quem não tinha recebido calor, mas calorias. obrigado, papai, pensei. Sei o que significa, para um louva-a-deus, sacrificar-se pela família.
Recolhi-me um instante diante do seu túmulo, isto é, diante da minha mãe, e recitei um miserere.
logo depois, como pensar na morte nunca deixava de me provocar uma ereção, achei que era o momento de ir ao encontro de Liuba, o inseto a quem amava. Eu a conhecera cerca de um mês antes, no casamento da minha irmã, que também foi o funeral do meu cunhado, e me tornara prisioneiro de sua beleza cruel. Desde então continuamos a nos ver. Como fora possível? Deus tinha me abençoado com o dom mais caro a nós, louva-a-deus: a ejaculação precoce, condição necessária para qualquer história de amor não efêmera. Na primeira semana, só perdi um par de asas, as raptatórias; na segunda, o prototórax, com os anexos para o voo; na terceira...
"Não faça isso, Visko, pelo amor dos céus!", gritaram os meus amigos Zucotic, Petrovic e Lopez, empoleirados nos ramos mais altos. para eles, a fêmea era o demônio; a misoginia, uma missão. Eram sexualmente desviados ou disfuncionais desde a metamorfose, tinham feito votos do sacerdócio e passavam todo santi dia mastigando pétalas e recitando salmos. Eram muito religiosos.
Mas não havia reza capaz de me deter, logo agora que eu ouvia o suspiro gélido de minha bela, o grave murmúrio de suas membranas, o seu fúnebre sorriso escarnecedor. Movi-me freneticamente em direção àqueles sons, com a única pata que tinha sobrado, escorando-me na minha ereção, esforçando-me para imaginar as suas formas gloriosas, agora que não podia vê-las porque não tinha mais ocelos, agora que não podia sentir seu cheiro porque não tinha mais antenas, agora que não podia beijá-la porque não tinha mais palpos.
Por ela eu tinha perdido a cabeça."


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