24.8.12

Pobre Cat

Eu estou aqui trancada no quarto. Parece que estou de castigo, mas a verdade é que não estou. Mamãe me mandou para cá para dar um tempo para Catherine.

Acontece que nas quartas-feiras meus pais costumam sair após o trabalho e quem nos traz de volta da escola é Marise, a mãe do Lucas e da Joana. Lucas é da mesma turma que eu, enquanto que Joana é a melhor amiga da minha irmã desde o jardim. Elas fazem quase tudo juntas. Parecem mais irmãs do que Cat e eu.

De verdade. Ambas têm aquele cabelo louro dourado, enquanto que meus cabelos são escuros como os do papai. Só que Joana tem os olhos castanhos e não cinzentos como os nossos. Aliás, as únicas pessoas que eu conheço com os olhos cinzentos como os nossos são da nossa família. Papai diz que foram os olhos cinzentos da mamãe que fizeram com que ele se apaixonasse. Diz que lembram as asas de uma harpia. E bom, meu pai estuda harpias. Aposto que se ele pudesse escolher nossas características genéticas ele teria selecionado “olhos de asas de harpia”. Será que ele fez isso?!

Bom, só que o problema de eu estar trancada no quarto não tem relação com a cor dos nossos olhos, ou dos nossos cabelos, ou com a possibilidade do meu pai saber escolher as características dos filhos e nunca ter me contado (Cat diria que é impossível que ele tenha feito isso, só que ela me disse que aprendeu na escola que quem trabalha com genética poderia fazer isso. E mamãe trabalha com genética).

Voltando ao assunto... O motivo de eu estar aqui e minha mãe com Cat na sala é que dentro do carro voltando da escola, o Lucas perguntou por que Cat passava cocô de pombo no rosto todas as noites. Cat olhou para ele horrorizada e eu comecei a rir. É porque ela realmente passa um creme que parece cocô de pombo no rosto. E ela estava prestes a enfiar a mão na minha cara quando Lucas completou:

Por que você está com essa cara de espantada? Não é verdade? Eu ouvi a Joana contando para o Henrique e o Mateus ontem enquanto esperávamos a mamãe ir nos buscar.

E depois disso, eu salvei a minha pele. Só que a confusão no carro foi gigantesca. Cat ficou com uma cara assustada, então seus olhos ficaram vermelhos e lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Nesse instante Marise se recuperou e começou a dar uma bronca em Joana, só que acho que Cat não ouviu e se tornou histérica dentro do carro. Começou a gritar, enlouquecida, coisas horríveis para Joana, abriu a porta do carro em movimento e agarrou o meu pulso. Ainda bem que Marise percebeu o que Catherine estava fazendo e freou o carro.

Catherine saiu correndo me arrastando pela rua enquanto Marise tentava fazer Cat voltar para o carro e brigava com Joana por ela ter dito aquilo.

Quando chegamos em casa, 15 minutos depois, meu pulso estava preto. Eu estava espantada achando que tinha perdido minha mão para sempre, igual num filme que vi sobre um menino que perde o pé porque ficou preto depois de ter caído umas pedras sobre ele após um acidente de carro. Virei para Cat chorando e perguntei qual era o problema de Joana dizer a verdade para os meninos. Quero dizer, ela não passa cocô de pombo no rosto, mas o creme realmente parece com isso.

Ela ficou ainda pior que no carro, gritava comigo, xingava Joana, chorava resmungando algo sobre o Mateus e atirou em mim uma rocha que papai e mamãe guardam de recordação do primeiro beijo deles numa saída de campo da faculdade. Só que a rocha não me acertou. Ela acertou Felix nosso gato exatamente quando mamãe abria a porta da sala (porque ela veio voando após o telefonema que Marise deu logo depois que saímos do carro).

Eu nunca vi mamãe assim. E eu a vejo brava com frequencia. Os olhos dela não pareciam mais olhos de harpia, sequer pareciam uma harpia caçando. Eles pareciam aço. Cat parou como se mamãe tivesse acertado um soco na cara dela. Ela até parou de chorar. Eu só via o peito dela subindo e descendo tão rápido que ela poderia ter corrido igual aqueles atletas que papai gosta de assistir.

Mamãe me mandou para o quarto. E a casa ficou silenciosa. Isso até Feliz aparecer arranhando a porta do meu quarto. Eu me lembrei que ele estava ferido, porém quando ele entrou no quarto vi que mamãe já tinha dado uns pontos no bumbum dele.

O que será que está acontecendo com elas lá embaixo? É a pergunta que faço a mim e ao Félix.

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Letice é uma personagem criada por mim. Ela é uma menina de 9 anos que é cheia de questionamentos e apronta muito. O primeiro post dela está aqui.

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