28.11.12

[Resenha] Belle - Lesley Pearse



Eu confesso que estou um pouco receosa para falar de Belle.
Era um livro que não me chamou a atenção no lançamento, mesmo tendo lido algumas boas resenhas, acreditava que iria gostar e, ainda assim, não estava muito entusiasmada para ler.
Aí comprei-o porque estava por míseros 10 reais. Um livro recém-lançado. De mais de 500 páginas.
Logo após a compra, li uma resenha que conseguiu me deixar ansiosa, e a leitura finalmente chegou.

Ele tinha tudo, absolutamente tudo, para ser um dos meus livros preferidos: um tema polêmico, autora inglesa, ambientação em Londres do início do século XX (Mary Poppins e Eliza Dolittle!!), aventura, um certo suspense, romance, amadurecimento, discussão que nem enaltece ou censura a prostituição.
Só que ele não conseguiu. E nem digo que não foi pela PÉSSIMA revisão da Novo Conceito. Eu nunca havia pegado um livro da editora tão mal feito. A beleza ficou apenas na diagramação e capa, porque o texto estava repleto de erros, ao menos um a cada duas páginas. Eram tantos, que você já revirava os olhos e já seguia o texto.

Dito isso, vamos a história em si.
São muitas páginas, como eu disse acima, e eu já fiquei desconfiada de que um livro que começa muito emocionante, trazendo no primeiro capítulo muita ação... bem, não é muito fácil manter esse nível até o final.
Eu não sou contra a opção feita pela autora, eu estava adorando o livro no começo, porém fiquei comparando com a rotina de uma dança clássica árabe. A bailarina deve entrar e 'cumprimentar' o público, gracejar. Então, ela começa a desenvolver sua dança criando performances com movimentos mais elaborados, podendo alternar o 'uow!' e o 'que meiga!', próximo ao fim da música ela pode dar tudo de si para finalizar em grande estilo, se despedindo do público.
Por que eu falei disso? 
Uma música clássica costuma ter em torno de dez minutos. Se a bailarina começa trazendo o melhor de si no início da dança, é provável (não impossível) que ela tenha dificuldades de continaur mantendo o nível com novidades, simpatia e fôlego até o fim. E assim, teremos o contraponto entre a dança que acaba com a evolução e o sentimento do público de que foi inesquecível (que o tempo voou), versus a dança que conseguiu eletrizar o público nos primeiros momentos e terminou com todos cansados, olhando o relógio e se comentando 'de novo isso?'.

Como a própria sinopse nos traz, Belle é uma moça que cresceu em um bordel sem saber a real profissão das prostitutas com quem convivia. Ela, então, descobre tudo ao presenciar um assassinato. Terminamos aqui o primeiro capítulo do livro, entendem?
O que acontece a partir daí é o rapto de Belle para silenciá-la do crime, quando a menina entra no mundo do tráfico de jovens para prostituição.

Não vou adiantar mais nada da história, porque ela tem seus encantos. Lesley Pearse buscou usar todos os seus 'passos do repertório' para manter a história, nos levando a diferentes lugares, diferentes reflexões. Nos fazendo rir e chorar, ficar ansiosos... e nunca totalmente aliviados.
Ainda assim, algo na escrita da autora (não creio que seja meramente a tradução) foi ficando minguado no meio da história, e eu estava com menos ânsia pelo livro. Fiquei 2 dias sem tocá-lo (e costumo sempre ler antes de dormir). Digamos também que Belle é uma personagem astuta, algo que é constantemente ressaltado pelos demais personagens, entretanto como boa adolescente, ela é extremamente sagaz (muitas vezes mais do que o normal para a idade dela, mas dentro da aceitabilidade) em grande parte da história, só que ingênua e 'tapada' em outros. Ouve a intuição quase sempre, deixando a voz interior de lado em momentos cruciais.
Exatamente naqueles momentos em que o leitor tem vontade de chacoalhar o livro para ver se assim consegue fazer a personagem se dar conta.

Outra questão que deixou a desejar foi a alternância da narração dos personagens. Eu costumo gostar disso, e num livro onde precisamos presenciar o desenrolar onde a protagonista não se encontra, se faz necessário de algum modo trocar o ponto de vista da narração. Porém, havia muita bagunça em alguns momentos. A narração era quase sempre em terceira pessoa sob a perspectiva de um personagem, só que havia momentos em que a narração passava para primeira pessoa, retornava para terceira pessoa. Depois trocava o ponto de vista do personagem que estava na mesma cena numa nova alternância entre primeira/terceira pessoa.
Isso da troca de personagens não acontecia o tempo todo, mesmo assim ficava ligeiramente confuso. E ainda mais estranha era a mudança entre primeira e terceira pessoa.

Passando das críticas aos elogios, os personagens são adoráveis. Há uma diversidade de tipos que só a vida é capaz de oferecer. E a autora seguiu trabalhando-os primorosamente, sempre nos ofertando uma novidade na personalidade e nos pensamentos dos antigos, ou oferecendo um personagem novo.
Embora o tema do livro seja forte, as palavras utilizadas nele o tornam tranquilo para um adolescente ler. Poucas palavras de baixo calão. Cenas duras que não suavizadas, no entanto, contadas de um modo que não faz as vísceras se contorcerem. Como se fosse o linguajar de um pai/professor conversando com adolescentes. Fiquei bem curiosa com o talento dela para conseguir isso (ficava refletindo sobre o fato durante a leitura, já que eu sou muito sensível a ler/ver sobre abuso sexual).

Não objetivando dar spoilers, adianto que quando Belle conhece Gabrielle e passa a morar com ela, a história engrena de novo num ritmo clímax, e eu voltei a devorar as páginas, largando apenas com o fim do livro. 

Embora eu tenha ficado triste com essa decaída na parte central da história, não acho que ela foi desnecessária. Em minha opinião só poderia ser trabalhada de outro modo. E o balanço final foi positivo.


Quem já leu Belle ou tem outros livros que abordem prostituição para indicar?
Será que eu ando com azar esse mês pegando tantos livros mal revisados?

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