22.1.13

Parabéns para quem?

- Mãe, posso usar aquele seu par de brincos?  

- Leti, eu tenho certeza que irá perder. Você sabe que foram os brincos que a vovó deu para mim quando fiquei noiva do seu pai. Se ela descobrir que eu os perdi provavelmente mandaria ele pedir a separação! 

 - Eu não vou perder! Juro! Você pode até passar esmalte atrás para ter certeza. 

 - As crianças sempre acham que não vão perder. Aí elas começam a correr, a se engalfinhar e quando chegam em casa não sabem o que aconteceu. Eu também já fui criança, meu amor. 

Eu estava fazendo cara de choro bem na hora que papai apareceu no quarto e perguntou o que estava acontecendo para a mamãe. 

- Deixe ela usar os brincos! Tenho certeza de que irá cuidar bem deles. - ele se virou e me deu uma piscadinha - Ela só quer ficar bonita como você. 

Minha mãe estava ficando com os olhos de aves de rapina, porque ela detesta que meu pai contrarie ela na nossa frente, principalmente quando sabe que está certa. Só que ela se derreteu com a última frase dele. Saiu resmungando que ela iria fingir que não sabia de nada, e que se algo acontecesse, ele deveria explicar pra mãe dele.

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Duas horas depois eu estava no carro me admirando no vidro do banco de trás com os brincos da mamãe. São flores de pedras vermelhas, e combinam perfeitamente com os detalhes da minha blusa nova. E com o laço do presente da Re.
Meu pai começa a rir ao me ver pelo retrovisor.

- Você parece a Cat de peruca há alguns anos atrás. Já estou me preparando para lidar com você daqui alguns anos, viu mocinha?!

Eu balanço a cabeça franzindo a testa pra ele. Não sei porque ele está preocupado. Eu jamais serei como  a Cat. Eu nem tenho uma amiga chata como a Joana.
É óbvio que escrevi essas reflexões com cuidado no meu caderno. Não queria que o Lucas ao meu lado visse que eu estava escrevendo mal da irmã dele. E essa era a primeira vez em duas semanas que nós ficávamos um pouco sozinhos, como quando éramos crianças.

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É... o aniversário começou legal.
Chegamos cedo e a Re adorou o meu presente.
Eu achei que eu e o Lucas teríamos tempo para conversar e brincar um pouco antes de todo mundo chegar. Só que a Camile já tinha chegado e os dois, pela primeira vez, ficavam conversando entre si sem prestar muita atenção em mim. Tinham piadas e segredos entre ambos e, o pior, não demonstraram querer esconder nada de mim, só pareciam não prestar atenção o suficiente para perceber que eu não estava compreendendo nada.

As coisas melhoraram quando chegaram nossos outros amigos e começamos a comer.
Eu adoro bolinhas de queijo e estava com saudades delas. Comi tantas, mas tantas. Porque eu intercalava uma bolinha de queijo com algum docinho e outra bolinha de queijo. Assim eu não enjoava dos salgados nem dos doces.
Fiquei chateada quando o Pedro percebeu isso e debochou de mim, não pelo deboche, é que o Lucas e a Camile ficaram tirando com a minha cara o resto da festa. Eu estava com saudades deles e já nem suportava mais ficar por perto.
Qual o problema? O Lucas sabe que eu sempre faço isso, nós sempre fazíamos isso juntos. Nunca foi engraçado.

Fomos jogar vôlei na quadra atrás do salão e, finalmente, todo mundo pareceu esquecer meu jeito estranho de comer. É que eu sou a melhor da turma jogando. Melhor que os meninos. A única que sabia sacar por cima. E todos me queriam na equipe.
Só que eu achei justo ficar na equipe da Re, que era a aniversariante. E também porque eu estava chateada com os outros. 
E claro que a minha equipe foi a vencedora. Não porque eu estava na equipe e era a melhor. Nem porque a Re joga bem também, mas porque eu estava chateada e queria ganhar mais do que os outros.

Só que aí, depois de cantarmos os parabéns e comermos bolo, a Elisa ficou insistindo para irmos brincar da brincadeira da garrafa. E é claro que eu não quis. Minha irmã brincava disso com os amigos dela e parecia uma desculpa para saírem se beijando ou fazerem besteiras.
A Re disse que não iria brincar porque ia dar atenção para a família dela um pouco. Tirando ela, eu e o Thiago fomos os únicos que não quisemos brincar. E, geralmente ninguém quer brincar com o Thiago. Nem eu.
Hoje foi diferente. Hoje fiquei feliz que ele pudesse me fazer companhia. Fizemos um gol com nossos tênis na quadra de vôlei e ficamos chutando enquanto conversávamos. Descobri que ele também gosta de ler. E que é um menino bem legal quando não fica fazendo piadas com os outros o tempo todo.

Meu pai estranhou quando eu entrei no carro sem o Lucas. Expliquei que ele iria voltar de carona com a Camile. Na verdade eu tinha pedido para Re avisar para ele voltar com a Camile.
Não sei explicar porque, mas nem quis ir lá me despedir. Não quis que ele voltasse comigo. Queria apenas meu amigo de volta.

- Sua mãe vai ficar feliz de ver que você continua com os dois brincos nas orelhas. Arrisquei minha cabeça por isso.

Eu nem consegui prestar atenção nos planos do meu pai de deixar minha mãe irritada quando chegássemos em casa.



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Letice é uma personagem criada por mim. Ela é uma menina de 9 anos que é cheia de questionamentos e apronta muito.

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