30.1.13

[Resenha] A lista de Schindler



Título: A lista de Schindler
Título original: Schindler's list
Autor(a): Thomas Keneally
País: Austrália
Ano publicação original: 1981
Editora: Bestbolso
Páginas: 531



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(4/5)
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Logicamente todo o meu desejo de ler o livro surgiu por conta do filme homônimo dirigido por Steven Spielberg.
Quando tive acesso a essa edição de bolso num preço bacana, percebi que era o momento certo e fiquei muito satisfeita de terem escolhido esse livro para compor minha lista de leitura do mês.
Acrescento que apesar de A lista de Schindler de Thomas Keneally ter inspirado o filme, há muitas diferenças entre ambas as obras. Não necessariamente na história, mas o modo como ela é conduzida, os focos da narrativa e tudo mais, geram uma distinção.

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Essa resenha eu farei ligeiramente diferente do modelo que tenho assumido desde o início desse ano.
Não irei dar um breve resumo antecipadamente para depois tratar da história. Acho que não se fará necessária, e caso você tenha interesse em apenas conhecer em termos gerais o livro, basta seguir os primeiros parágrafos.

Sempre me interessei bastante por livros e filmes que tratassem da Segunda Guerra Mundial. Lembro de dizer que gostava da Segunda Guerra quando criança, fazendo com que minha mãe e tia me corrigissem ao expressar minha ideia. 
Acredito não ser a única com esse interesse que tampouco sei explicar a razão. Sei apenas que conhecer sobre o nazismo na época de fascina do ponto de vista histórico. O modo como ocorreu a guerra e as relações que geraram. Parece algo irreal.

"Aquele que salva a vida de um homem salva a vida do mundo inteiro.
p. 61

Começamos a leitura com uma observação do autor, dizendo como encontrou um dos judeus sobreviventes por ter trabalhado para Schindler e como ele reuniu material para a construção do livro.
Ele buscou a narrativa de outros 'judeus de Schindler' sobreviventes e residentes em sete países atualmente (dentre estes o Brasil). Junto a isso foi atrás de documentos históricos, relatos familiares e de conhecidos.
Ele criou uma biografia, com recortes. No entanto, ele é romancista e escolheu escrever a biografia em formato de romance.

Eu acredito que foi inteligente a escolha, embora árdua. Principalmente porque ele optou em não preencher as lacunas e se ater aos fatos, aquilo que realmente era seguro. E essa para mim, foi um dos pequenos 'problemas' do livro (embora concorde com a decisão do autor). Quando vemos o filme de Spielberg notamos que ele optou por uma maior liberdade de romanceamento, dando melhor continuidade a história.

Tratando de problemas, ressalto que alguns desenvolvimentos cansam. Porque o tempo avança numa ideia e retorna mais tarde o fato sobre outra perspectiva. Ou porque há por vezes mais do que um acontecimento semelhante e eles são narrados em separado (como novos argumentos numa defesa). Com exceção desses dois aspectos o livro é excelente.

"(...)A fatal maldade humana é matéria-prima dos narradores, o pecado original, o fluido materno dos historiadores. Mas é um empreendimento arriscado escrever sobre a virtude.
p. 12

Aliás, eu comecei me emocionando e chorando já nas primeiras páginas com o depoimento do autor.
No decorrer da história vamos conhecendo Oskar Schindler, o industrial alemão que usa a suástica e não é nenhum homem santo.
Conhecemos desde início os problemas dele com as mulheres, com a bebida e com o gosto pela ostentação e esbanjamento. Como eu disse, ele não é um homem santo. É um homem cheio dos pecados mas, nem por isso, tem suas virtudes diminuídas.

Aliás o modo de vida que Schindler levava é contestada em alguns momentos do livro, como quando se compara a refeição de seus empregados (muito superior a dos demais judeus) que é bem inferior a do patrão. Os judeus justificam dizendo que isso não diminui suas ações, ele ganhava dinheiro com o trabalho deles e se esbanjava em decorrência disso. Entretanto ele lhes salvou a vida.

Como leitora também reflito sobre o papel que Schindler exercia de patrão. E as dúvidas que me vinham em como ele conseguiu manter essa farsa mal atuada até o fim. Um verdadeiro milagre!
Alimentar-se bem e figurar como um grande industrial, era importante no que ele vinha tramando. O autor, entretanto, nos deixa claro que, mesmo perdendo muito dinheiro para auxiliar o povo judeu, Oskar jamais se negou a ser um bon vivant.

O que mais me encanta nesse livro é oportunidade de conhecermos melhor o dia a dia das famílias judias no decorrer dos anos em guerra.
Geralmente os romances que tratam do tema escolhem falar sobre algum personagem específico nos campos de concentração ou que estejam se escondendo.
Aqui temos uma miscelânea de relatos. E conseguimos estabelecer melhor uma ideia sobre a vida naquela época.
A ignorância das atrocidades, a fé que era algo passageiro, a crença de que surgiria apenas uma divisão social, a busca na manutenção do cotidiano (comércio, namoros, casamento), a total desesperança, as mortes 'vazias', o ódio e aquele sentimento de desprezo...

Passamos pelas diferentes emoções e estágios da guerra. Seguimos pelo vai e vem, do terror a calmaria ao terror inimaginável.
E acompanhamos a mobilização de frentes judaicas, algo que dificilmente é abordado. A ideia geral é como se o povo judeu estivesse sendo massacrado e que ninguém se manifestasse, que eles tivessem esperada o tempo todo por uma ajuda externa. E aqui, eu consegui acompanhar melhor essas iniciativas.

Enfim, o livro é até agora o registro mais completo que já vi desses anos.
Ela ultrapassa os ambientes mesmo mantendo a história sempre na Polônia. Cita as movimentações na Rússia e o que se espera de lá, trata da fábrica, das festas dos SS, da vida no gueto judaico, dos campos de concentração...

Ele não julga também. É possível notar isso. Ele deixa o julgamento para os narradores ou para o leitor.
Vemos judeus que se beneficiam do sofrimento de outros, enquanto alguns se colocam em risco para ajudar meros conhecidos. Percebemos que alguns SS sentem ódio, outros matam e violentam como um ato normal, alguns temem e se amarguram pelo o que precisam fazer, há os que se apegam aos prisioneiros. E há loucos como Goeth, que se sentem capazes de tudo.


"- Herr Schindler, quero que compreenda que para nós é indiferente. Não nos importamos se é esta ou aquela dúzia de gente. 
O oficial que estivera de sobrolho cerrado, quando Oskar o vira pela primeira vez, agora parecia calmo, como se houvesse descoberto o teorema por trás da situação. Acha que os seus 13 míseros funileiros são importantes? Nós os substituímos por outros míseros 13 e todo o seu sentimentalismo por causa deles cairá por terra.
- É inconveniência para a lista, apenas isso - explicou o oficial. 
O baixote e rotundo Bankier admitiu que o grupo todo não tinha se dado ao trabalho de ir buscar a Blauscheins no velho Banco de Poupança Polonês. Schindler, subitamente irado, mandou que eles tomassem as providências necessárias. Mas o que sua irritação escondia era a consternação de ver toda aquela gente que, por falta de uma etiqueta azul, estava ali na Prokocim, esperando pelo novo e decisivo símbolo de seu status, o vagão de gado, para ser puxado pela pesada locomotiva ao longo da amplitude de sua visão. Era como se os vagões lhe dissessem: agora todos vocês são gado.
p. 160

Vencedor do Booker Prize, é um livro que te fará ter ânsias, que te fará se sentir desesperançado na humanidade, que mostrará horrores. Irás chorar.
Mas, também vais rir diante de histórias cômicas ou inacreditáveis como o da pequena Genia (a menininha de vermelho), irás sorrir diante da ironia do destino e da bondade e fé humana. E suspirarás forte quando sentires alívio e descobrirás que estavas há alguns minutos sem respirar em pura tensão.
E saberás que, tudo aquilo, foi real.


"Por fim, Schindler deixou-se escorregar do cavalo, tropeçou e caiu de joelhos abraçado ao tronco de um pinheiro. Sentiu que precisava conter a ânsia de vomitar o seu excelente café-da-manhã, pois suspeitava que seu corpo instintivamente procurava abrir espaço para digerir os horrores da Rua Krakusa.
p. 166


"Mais tarde, nesse dia, depois de ter bebido uma dose de conhaque, Oskar compreendeu o teorema em seus termos mais claros. Eles permitiam testemunhas, como a da garotinha de vermelho, porque julgavam que as testemunhas todas também pereceriam.
p. 167


"- Trabalhando aqui, vocês estarão a salvo. Se trabalharem aqui, irão até o final da guerra com vida.
(...) A promessa deixara-as aturdidas. Era uma promessa divina. Como podia um homem, um simples homem, fazer uma promessa daquela ordem? Mas Edith Liebgold acreditou no mesmo instante. Não tanto porque era no que ela quera acreditar; não porque era uma dádiva, incentivo imprudente. Mas porque, no instante em que Herr Schindler proferiu a promessa, a única opção era acreditar.
p. 115

Quero parabenizar também pela capa, que eu não havia notado quando comprei, porém quando fui ler achei muito interessante os nomes da lista.
Boa leitura!

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