5.2.13

A pequena princesa Letice

Essa semana na escola nós lemos O pequeno príncipe. Alguns meninos acharam bobo, mas eu achei o livro muito bonito.
Meu pai diz que adora o livro e me mostrou um exemplar bem velho e amassado que ele guarda na gaveta de coisas importantes do lado da cama. Ele me contou que ganhou o livro quando tinha a minha idade e estava morando com os pais na França. Meu pai ficou tão encantado com a história que desejou ser aviador durante alguns anos para também poder encontrar o princepezinho.
Desistindo de ser aviador, ele decidiu estudar aves. E, é o que ele diz, foi essa a maneira dele poder voar para mais perto do princepezinho sem abandonar a mamãe na terra.

Eu ri muito quando ele falou isso, chorei de tanto rir. Mas a verdade é que eu estava chorando porque achei muito bonito o que meu pai contou e não conseguia entender como os meninos da minha turma poderiam achar o livro bobo, enquanto meu pai que era menino tinha achado o livro tão especial há tantos anos atrás?

Tá bom que o escritor é meio maluquinho no começo. Ele desenha um chapéu e diz que é um elefante dentro da jiboia. E o princepezinho entende o desenho logo de início. Eu duvidei mesmo disso!
Mas quando ele desenha o carneiro dentro da caixa... Eu tenho 9 anos e achei a ideia brilhante! E não estúpida como o Carlos sugeriu.
Eu fico imaginando o carneirinho dentro daquela caixa, quentinho, sonhando com a graminha e a rosa do princepezinho. Sei que ele irá sonhar em comer a rosa todos os dias, porque assim o princepezinho poderá dar a atenção que dava à rosa para ele.
É claro que ele não sabe que o principezinho ficará triste e magoado com o carneirinho. Ele não pode saber disso porque é apenas um carneirinho. E eu sei que ele não pode saber, porque uma vez o Félix destruiu uma maquete da Cat, a maquete que ela ficou fazendo no horário que costumava assistir tv com ele no colo. Ela virou brava para ele durante aquela noite quando ele começou a miar pedindo atenção, gritou e disse que iria arrancar o rabo dele fora caso ele se aproximasse. O resultado foi a destruição da maquete durante a noite.

Eu tentei discutir a história dos pensamentos do carneirinho na turma. Já a professora só queria conversar sobre "a passagem mais bonita". Ela devia pegar a passagem dela e ir passear.
Eu também gostei de ver que a raposa conseguiu a amizade do Pequeno Príncipe. Só que eu não tenho gostado de pensar sobre a amizade.
A melhor amiga da minha irmã (ela é amiga da minha irmã há mais tempo do que a Cat é minha irmã) não se importa mais com ela. E não se importa com a destruição da minha amizade com o Lucas.
O Lucas e a Mille também não se importam com nossa amizade. Eles quase nunca querem fazer o que fazíamos, ou nunca podem fazer nada comigo. Nem no recreio a gente fica junto.

Eu escrevi uma carta para os dois e entreguei no fim de uma aula. A Camille ficou brava e brigou comigo. O Lucas disse que não concordava com o que eu tinha escrito. E o resultado foi que nada mudou entre a gente. Talvez agora tenhamos ficado ainda mais afastados.
O resultado é que eu sou a raposa que foi cativada, e meus amigos partiram e eu fiquei triste. E a raposa estava enganada, porque ver os campos de trigo e lembrar deles não me fez mais feliz, brincar do que brincávamos juntos só me deixa triste.

No final da aula, depois que a professora parou de falar da beleza da conversa com a raposa, eu fui até o banheiro e me tranquei. Chorei até acabar o recreio e não tive coragem de voltar para a sala com o rosto inchado. Então eu voltei a me trancar e só saí de lá quando bateu o sinal para irmos embora.
A Renata veio me perguntar se eu estava me sentindo bem e me ajudou a guardar meu material para irmos embora. Ela disse que contou para o professor de artes que eu comi algo que me fez mal no recreio, para ele não pensar que eu estava matando aula. Ela até procurou meu dever e mostrou para ele.
Eu a abracei forte e me senti um pouco mais feliz por ter sido cativada por essa verdadeira princesa, foi neste momento que minha irmã apareceu na porta para irmos para o carro.

Quando chegamos em casa, pela primeira vez em muitas semanas a Cat disse que iria almoçar com a gente. Ela pegou minha mochila e disse que era para nós irmos guardar o material no quarto antes de sentar à mesa.
Eu achei estranho, mas na escada ela me abraçou e disse que viu meus pés debaixo da porta do banheiro. Que ela também tinha passado parte da quarta aula ali. E eu comecei a pensar que ela iria me dedurar para a mamãe. Porém, ela só me abraçou ainda mais forte e ficou repetindo que me amava, que eu poderia contar sempre com ela e me agradecia por ser sua irmã.

- Eles não sabem o que estão jogando fora! - ela falou e eu não soube exatamente de quem ela estava falando, mas não tinha importância.

O autor francês tinha razão "num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo". E é preciso ver com o coração.

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Letice é uma personagem criada por mim. Ela é uma menina de 9 anos que é cheia de questionamentos e apronta muito. O primeiro post dela está aqui.

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