24.4.13

[Resenha] Precisamos MESMO falar sobre Kevin





Título: Precisamos falar sobre Kevin
Título original: We need to talk about Kevin
Autor(a):  Lionel Shriver
País: Estados Unidos
Ano publicação original: 2003
Editora: Intrínseca
Páginas: 463




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(5/5)

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Puts! Sabe aquela conversa de que o livro foi tão bom que é difícil falar sobre ele?
O livro foi muito bom, é difícil falar sobre ele, mas não o é por ser bom. É pelo livro em si.
Eu comentei já que a semana passada começou com um bom ritmo de leitura, achei que iria ler a história do Kevin em dois ou três dias. Levei seis.
Achei que tinha começado mal, porque estava muito cansada do trabalho e era isso que me fazia avançar tão lentamente. De meus olhos se fecharem após 30 páginas de leitura na cama. Eu insistia e não conseguia.
Não era exatamente um cansaço físico do trabalho, não apenas isso. Era um cansaço físico e emocional imposto pela trama de Kevin, Eva e Franklin. Era tão pesado, muito mais do que eu esperei que fosse. Porque não era apenas a tragédia em si, a qual já conhecíamos da sinopse ou das primeiras páginas. Kevin havia assassinado alunos e uma professora na escola. O horrível era saber que página a página, dia após dia da vida de Kevin eram depositados pequenos chumbinhos que puxavam o leitor e a família de Kevin para um buraco profundo sem sequer se mover.

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Breve sinopse

Kevin Khatchadourian, 16 anos é o autor de uma chacina em uma escola no subúrbio de Nova York. A mãe Eva repassa a vida do filho procurando compreendê-lo e esclarecer com o marido o que pode ter acontecido para resultar em tamanha loucura e crueldade. O modo encontrado por Eva são cartas destinados ao marido Frankie discutindo a polêmica relação da maternidade e família, denunciando  problemas da nossa cultura contemporânea.
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Temos um romance epistolar, Eva (mãe de Kevin) decide escrever a Franklin (pai de Kevin) na tentativa de compreender o que aconteceu e seu próprio filho.
Ela narra em suas cartas parte do seu dia a dia. A nova casa, o novo emprego, as discussões dos colegas de trabalho e, também, as visitas a Kevin. Ou seja, numa mesma carta, há fatos do presente, lembranças do passado e questionamentos. Permeando esses pequenos indicativos de que a vida continua apesar dos pesares, mesmo quando parecemos algo sem vida presos no nosso corpo, temos a retrospectiva da vida do casal desde o momento em que começaram a cogitar a ideia de um filho.
Carta após carta avançamos no tempo, na sucessão de acontecimentos na vida dessa família.

Até o dia 11 de abril de 1983, eu me iludia coma ideia de ser uma pessoa excepcional. Mas, desde o nascimento de Kevin, estou convencida de que somos todos provavelmente de uma profunda normalidade. (Na verdade, achar que somos excepcionais é talvez a regra geral.)
p. 98

A leitura é enriquecedora, porque Eva não se utiliza de palavras simples para desabafar, ela faz da escrita dessas cartas um primor, com vocabulário complexo. Tampouco a leitura é difícil por sua escrita. Ela é elaborada, porém tranquila. O que não é tranquilo é o que está sendo contando com essas palavras.

Eva começa a falar com Franklin sobre o momento do relacionamento em que eles começaram a pensar em filhos. E avança cronologicamente, embora em alguns momentos nos dê indicativos da história futura.
Acredito que uma pergunta que deve surgir nas primeiras páginas seja "o que aconteceu entre ela e Frankie?". Ao menos para mim, foi um questionamento constante no decorrer da leitura. E eu ficava até com raiva de mim mesma porque eu estabelecia certezas e depois novas certezas sobre o futuro do casal. É que eu já sabia o fim da história de Kevin. Já sabia que Eva estava sozinha sem dinheiro e seu filho preso. Eu queria saber era o que não estava ali, que era muito claro em determinados momentos e coerente com o fim. Já em outros me pegava inventando outros caminhos com as palavras dela.
O mesmo aconteceu quando ela cita Celia a primeira vez, que gerou uma confusão e um apego imenso aquele nome novo na história que tinha tanta importância; Explicado só mais adiante.

Kevin não é surpresa nenhuma a maior parte do tempo. Eva nos mostra que ele é irritante e provocativo já saído do hospital quando recusa a mamada.
Ele é tão previsível na sua 'maldade' que ele não parecia real em muitos momentos. Parecia alguém fabricado para ser mau, manipulador e cínico. Qualquer ponto que surgia era um "ah, é claro que é típico de alguém assim".
Sério! Sabe como se estivéssemos na escola e houvesse o aluno que sempre apronta, portanto quando ele quebra qualquer objeto aquilo não é nada surpreendente, é quase algo tão simples como um espirro porque já esperamos que seja o tipo de coisa que ele faça?
Eu me sentia assim lendo o livro. Nada que Eva me contasse (na verdade pro Frankie) sobre o Kevin me causava estranhamento. Eu apenas pensava "me traga alguma novidade, eu já esperava isso", quando sequer tinha passado pela minha cabeça a ideia. Só a irritação era constante. Eu queria bater no Frankie, gritar com ele por ser tão estúpido no seu modo de tratar o filho.
E fazer o mesmo com Eva que continuava seguindo aquela vida ligada a um marido tapado, que já não era nada do que ela sempre adorou. Ela se apegava a relação com o marido (que não era a mesma), não mudava sua vida e acabava com ela ao mesmo tempo.
Eu queria que ela largasse todo mundo assim que percebeu que a situação era doente (e eu não estou dizendo que achava legal os pensamentos dela anti-maternidade, mesmo que eu respeitasse isso e achasse ótima a sinceridade dela). Eu só sentiria orgulho se ela explodisse a raiva dela.
É... assim como Kevin eu também queria ter orgulho do momento que ela se livrasse do papel mal desempenhado que vinha seguindo.

Até o momento em que Celia entra na história o livro é bom. Mas é a partir daí que eu sinto que há um novo fôlego para a trama. Provavelmente porque Eva passa a respirar e passamos a sentir isso, nos agarrando mais fortemente na história e em tentar compreender essa família louca.
Realmente conseguimos avançar muito em alguns problemas, e novamente eu consigo sentir ainda mais raiva de Frankie. Eu consigo detestá-lo ainda mais que ao filho assassino.
Ainda assim, é com todo esse peso e essa raiva que eu me peguei grudando no livro me preparando para a narração do fatídico dia em que Kevin causou tudo aquilo na escola. (sim e ficamos sabendo detalhadamente o que ocorreu)

Eu chorei tanto, fiquei tão envolvida emocionalmente com todas as nuances de sentimentos que alguém pode experimentar. E conseguia ficar surpresa comigo mesma para um pouco mais, para só mais um sentimento, só mais uma surpresa. E isso continuou acontecendo até a última página.

Eu não sei se Eva realmente conseguiu entender seu filho, eu não sei se eu consegui compreender todos esses personagens. Só sei que eu provavelmente senti com poucos livros tantas emoções quando eu pude descobrir com esse (George Martin é outro autor que consegue me fazer sentir coisas novas).

Sei que Kevin me fez ver o que meus olhos e o meu cérebro já notavam, mas não haviam deixado tão claro sobre nossa doentia sociedade. Sobre a mídia. Sobre nossa relação com o mundo, com as pessoas e com os acontecimentos.
Percebemos como atos simples geram verdadeiras explosões como a de Kevin, como o comportamento humano é complexo e variável. Que as motivações para um assassinato podem ser as mais diferentes possíveis.

(...) Chame-o de irado ou ressentido, é apenas uma questão de graus. Mas, por baixo dos níveis de fúria, espantei-me, quando descobri, havia um tapete de desespero. Ele não era louco. Era triste.
p. 279

Eu imagino que o livro não vá agradar a todos. Infelizmente. Mas considero um dever indicar o livro de Eva. Sim, de Eva, porque não sei nem como considerar Lionel Shriver a autora, acredito que aquela personagem exista.
E agora estou ansiosa para conferir o filme.


 Gosto da resenha do Psychobooks porque ressalta um ponto importante da história, o fato de Kevin não ser motivado por bullyings. Já a do Mademoiselle love books é contraditória comigo no que diz respeito a surpresa com as atitudes do Kevin, mas concordo plenamente com a sensação de competição contínua pela atenção de Frankie entre Eva e o filho. A Duhau do Livrificando consegue me compreender perfeitamente com relação a multiplicidade de emoções.
Agora a melhor resenha, a que eu gostaria que permite todo o convencimento para a leitura é do Livros, letras e metas. Mesmo que eu ache que seja melhor ler sem saber mais sobre Celia (eu pularia esse parágrafo).
Trago mais uma indicação de resenha atualizada. Está fantástica e as palavras me deixaram arrepiada  no Daily of books.

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