10.7.13

[Resenha] Fora de mim - Martha Medeiros




Título: Fora de mim
Autor(a): Martha Medeiros
País: Brasil
Ano publicação original: 2010
Editora: Objetiva
Páginas: 131





(5/5)

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Sabe aquele autor bom, aquele que você gosta muito de modo muito simples porque ele te atinge com as palavras dele profundamente. Pois, é 'moquirida' Martha é dessas. E vocês já devem ter enjoada de me ouvir falar dela no blog.

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Breve sinopse

O fim de um relacionamento é sempre complicado. Quantos questionamentos surgem sobre o que é o amor, como se ama, como se vive com amor e na ausência daquele que se amou?
Somos testemunhas do momento crucial de uma relação do ponto de vista de uma mulher que já passou por outro casamento e nos faz sentir com ela seu momento.
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(...) Eu ainda estava quieta agora há pouco, eu ainda estava sem pensar e sem sentir, de repente me deu uma calma, nenhuma desgraça aconteceu, você desceu pelas escadas, eu fechei a porta do apartamento e não chorei mais, eu vi pela janela o seu carro saindo da garagem e não chorei, eu fui para o banheiro escovar os dentes, acho que escovei os dentes, não lembro, e botei uma camisola e fui para cama e não chorei, não pensei, não senti, não chorei, entendi, não entendi, não pensei, não sei, acho que dormi.
p.16

Eu poderia ter escrito esse livro.
Sério!

Sabe aquele livro que as palavras registradas nas páginas surpreendem você porque parecem que alguém roubou suas ideias? Eu tive essa sensação. Como Martha Medeiros conseguiu arrancar de dentro de mim toda essa angústia que eu sinto e imagino na minha cabeça. Esses personagens são do meu imaginário. Por vezes eu sou essa mulher.

Só tive certeza quando a história passa a mostrar algumas características de pensamento que eu nos meus 25 anos não seria capaz. Não importa o quanto se tente e quão profundas sejam nossas experiências. Há reflexões que só o tempo traz. Elas podem ser compreendidas, mas jamais poderiam ser espontaneamente articuladas por aquele que ainda não as vivenciou.

Vivemos uma história de amor pela seu último momento.
A separação e acompanhamos a personagem mulher no exato momento da saída dele. O relacionamento estava acabado e ainda assim há uma infinidade de 'sentires' que não somos capaz de antecipar. As palavras da autora nos conseguem fazer passar por tudo juntamente com a personagem.

Há angústia em seus parágrafos gigantescos. Suas frases longas, cheias de de contradições.
Os pensamentos da personagem são os seus, você não consegue separá-los nesse momento. O primeiro capítulo é pura aflição.


Não sei se as pessoas choram de forma diferente uma das outras, eu choro contraída, como se alguém estivesse perfurando minha alma com uma lâmina enferrujada, choro como quem implora, pare, não posso mais suportar, mas o insuportável é uma medida que nunca tem limite, eu chorei no domingo, na segunda, na terça, em várias partes do dia e da noite, um choro de quem pede clemência, de quem está sendo confrontado com a morte, eu estava abandonando uma vida que não teria mais, eu sofria minha própria despedida, morte e parto, eu tinha que renascer e não queria, ão quero,  sinto que caí num vácuo, perdi a parte boa da minha história, e não quero outra, enquanto choro penso que se alguém me visse chorar dessa maneira me salvaria, me rpestaria socorro, chamaria uma ambulância, eu nunca vi você chorar, você alguma vez chorou por mim, você sofre a minha ausência, sente minha falta? (...)
p. 19

No dia seguinte não choveu.
No dia seguinte não chorei.
p. 48

O livro é dividido em três partes. E extremamente curto.
A diagramação está bem interessante, no modo como as partes são divididas e iniciadas. Trazem o sentimento do texto.

Na primeira parte, como já disse, mergulhamos em toda agonia pós-rompimento. Não conhecemos muito da história do casal, mas conseguimos compreender como será tentar uma vida sem esse relacionamento.

Na segunda parte somos apresentadas a relação desde seu início. Como era esse casal. Como esse amor fazia a personagem se sentir. Qual a história deles?

A terceira parte é sobre aquele momento em que achamos que precisamos verdadeiramente superar. Que a dor já passou dos limites, que todos se cansaram de nos ver naquele estado  e de nos ouvir. A etapa do seguir adiante obrigatoriamente. E essa parte é muito interessante.


Doeu perder você. (...)
É uma dor que se externa. Uma dor que se chora, que se berra, que se reclama. Uma dor que tentamos compreender e voz alta, uma dor que levamos para os consultórios dos analistas, uma dor que carregamos para mesas de bar, e que vem junto também para a solidão da nossa cama, para o escuro do quarto, onde permitimos que ela transborde sem domínio e sem verbo. A dr massacrante do abandono, da falta de telefonemas, da falta de beijos, da falta de confidências. no entanto, perde-se o homem, perde-se a mulher, mas o amor ainda está ali, mesmo sendo o deflagrador do vazio. Por estranho que pareça, há uma sensação de pertencimento, algo ainda está conosco. A saudade é uma presença.
p.87

Não tenho como explicitar melhor o que esse texto da Martha é capaz de fazer. Eu tentei, mas não tenho seu dom. Você precisa experimentar e arriscar esse misto de emoções. E tentar compreender o que é amar.


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