6.11.13

[Resenha] A evolução de Bruno Littlemore





Título: A evolução de Bruno Littlemore
Título original: The evolution of Bruno Littlemore
Autor(a): Benjamin Hale
País: EUA
Ano publicação original: 2011
Editora: Intrínseca
Páginas: 512




Consulte o preço aqui.

(3,5/5)

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Tá aí um livro do qual eu não havia ouvido nada, só peguei nas mãos porque estava por 5 ou 9 reais na Bienal do Rio e eu acabei decidindo levar pela sinopse.
Fiquei curiosa e decidi incluir nas minhas leituras profissionais de setembro, embora seja uma ficção. Mas foi condizente e vocês vão entender na resenha 


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Breve sinopse


Bruno, que se dá o sobrenome Littlemore, é um chimpanzé que sai do zoológico para os laboratórios de pesquisa, trilhando um caminho sem volta para a humanização. Quem nos conta essa história é o próprio protagonista, que narra para uma auxiliar escrever no cárcere que habita.
Bruno passa a compreender o inglês, a falar, se apaixona e até trabalha. Porém no anseio de ser humano nos revela a perdição de não alcançar o objetivo e já não ser mais chimpanzé.

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Eu comentei no vídeo das Leituras de outubro que eu não recomendava esse livro para qualquer pessoa. Deste modo, não é fácil para mim encontrar palavras para falar dele. Em especial porque ele é forte e choca, causa desconforto em diversos momentos. É polêmico, critica, nos coloca em dúvida.
Assim, se você é um religioso fervoroso, cristão, judeu, - não importa - talvez deva evitar essa leitura. É um romance ficcional, com inspirações na realidade, mas que podem gerar um incômodo gigantesco, e que pode fazer você se sentir afrontado.

Às pessoas relacionadas à academia e à ciência, àqueles que refletem sobre a evolução e nossa relação perante aos demais animais. Aconselho (vide a premissa anterior antes).

O livro é longo e dividido em 50 capítulos, e como disse na sinopse, o próprio Bruno narra a história para uma assistente. Ele justifica que embora domine a língua inglesa, seus grandes dedos dificultam esse trabalho. E a narrativa dele se faz com vocabulário por vezes extremamente culto e em outros chulo. Conseguimos perceber pelo modo como nos conta sua vida, desde o zoológico em que vivia até o momento em que foi de certo modo encarcerado no quarto em que vive.
E já nas primeiras páginas sabemos que Bruno é famoso. Espantosamente, não exatamente pela capacidade de fala, por ler Shakespeare (e interpretá-lo), sequer por sua aparência bizarra. Ele é famoso porque cometeu um crime. Um suspense que carrega durante a maior parte das páginas.

Esse suspense me irritou um pouco. Ele constantemente cita esse caso: o crime que me trouxe aqui. É claro que dentro da história todos sabem, porque viram nos jornais (como ele mesmo coloca). E eu entendo a escolha do autor de não revelar para que a história siga uma cronologia. Porém chega um determinado momento que cansa. É como uma criança que mostra o doce para o amigo, mas não come, não oferece e guarda no bolso para mostrar novamente. Em cerca de 400 páginas.

Essas citações e não revelações acontecem em outros momentos, ele antecipa um pouco os próximos acontecimentos e deixa para retornar mais tarde. Não gosto disso repetitivamente.
E, mesmo que eu saiba do seu grande amor por Lidia e da importância desse amor na história da vida de ambos, ele também me gerou sentimentos de conflito (não apenas pelo amor, mas também pela eterna discrição desse amor).

É uma ficção, com algumas cenas inverossímeis, mas que acabamos deixando de lado afinal é uma proposta diferente a que o autor nos traz. Não espere ler sobre algo que se assemelhe à Planeta dos macacos, não me parece que houve uma intenção desse tipo. Benjamin Hale, embora não seja das ciências naturais e da saúde, compreende muito bem esse universo. Conseguiu retratá-lo, conseguiu inserir o cinismo da vontade de compreender o mundo e, em alguns momentos, dominá-lo.
Ele nos esfrega na cara a fantasia do mundo dos papers (aliás, adorei essa parte), de que o número de publicações no seu currículo é o que mais importa. Dos grandes professores que já não enxergam suas pesquisas, que são realizadas por parceiros e orientados. Dos pesquisadores que se fecham em seu mundo de especialistas, doutores e gênios do mundo sem se dar conta de que qualquer um pode ensinar.

Benjamin Hale consegue também chacoalhar nosso ar metido de "sapiens sapiens" como Bruno nos chama em diversas ocasiões, nos fazendo perguntar como surgimos e como é o mundo ao nosso entorno. Que conhecimentos ignoramos para sustentar a nós mesmos no patamar de espécie "racional" e diferenciada.
É nesse momento em que o autor faz essas considerações que ele consegue tanto ganhar minha admiração quanto me chocar e me deixar confusa, com diferentes embrulhos de estômago que só podem ser explicados com a leitura.

Definitivamente é uma história com inovações, que poderia muito bem render um roteiro para o cinema. Admiro a coragem do autor e das editoras de publicarem palavras que em muitos momentos incomodem tanto.

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