13.2.13

[Resenha] Chocolate - Joanne Harris




Título: Chocolate
Título original: Chocolat
Autor(a): Joanne Harris (site)
País: Reino Unido - Inglaterra
Ano publicação original: 1999
Editora: Record
Páginas: 300




Quer comprar? Olhe na livraria Saraiva aqui!

(4/5)

----------------------------------------------------------------------------------------------

Esse é um dos livros inesperados que surgiu quando fui a biblioteca me abastecer para as leituras do mês. Saí de lá com um único exemplar que estava na minha lista, os demais não encontrei e acabei trocando por outros.
Caiu muito bem de passar os olhos por Chocolate e agarrar ele por conta do filme que assisti no cinema na época da escola com Juliette Binoche e Johnny Deep. Acontece que ele preenche um dos requisitos do Desafio realmente desafiante.

10. Ler um livro que tenha entre 300 e 350 páginas. 

---------------------------------------------------------------------------------------------- 
Breve sinopse

Vianne Rochet e sua filha Anouk chegam a pequena cidade de Lansquenet-Sous-Tannet. Vianne é filha de uma mãe cigana que passou a vida trocando de casa e até mesmo de vida. Não deseja criar assim sua filha Anouk, deseja criar algumas raízes e cultivar lembranças físicas, decide tentar nessa pequena cidade francesa que parece ser comandada pelo padre Reynaud.
Abrindo uma loja de chocolates, ela deseja se manter e trazer a felicidade às pessoas, embora o padre ache que ela tenha surgido para lhe atormentar e destruir os valores católicos.
----------------------------------------------------------------------------------------------

(...) Pintura, luz do sol e água com sabão nos livrarão da sujeira, mas a tristeza é outra história, a ressonância desolada de uma casa onde ninguém tinha rido durante anos...(...) 
p.14

Eu fiquei simplesmente encantada pela autora.
Ler Chocolate após ler Da magia à sedução é levemente engraçado. Coisa do destino?
Em ambos os livros lidamos com uma espécie de bruxaria. A personagem Armand chega a perguntar assim que avista Vianne "(...)Ele sabe que você é uma bruxa?" (p. 34). Mas não é desse modo que a doceira se enxerga, "Bruxa, bruxa. Esta é a palavra errada, mas eu sabia o que ela queria dizer." (p. 35). É um tipo de magia muito semelhante que permeia ambos os livros, aquela magia meio aciganada, antiga, de interpretar sinais. Sal grosso e arruda para tirar o mau olhado, sabe?

E, no entanto, nenhum dos dois livros procura tratar desse tipo de ritual. Eles apenas fazem parte de suas personagens, são características. A história parece se desenrolar mais como a vida.
Há um clímax central que conduz o livro narrado por Vianne e pelo padre Reynaud, sendo que os capítulos são marcados pelas datas da narrativa. E parecem diários ou cartas, mas não o são. Os capítulos de Reynaud são as conversas que ele faz com o antigo padre da cidade.
Essa divisão das narrativas é a marcação de uma história de enfrentamento entre a forasteira "libertina" e o curador dos bons costumes cristãos. Em alguns momentos soa assim, e meu modo de rotular é simplesmente uma ironia.

A forasteira não é praticamente de uma religião, o que é uma afronta na cidadela francesa. Mãe solteira. Usa roupas coloridas. Instala uma loja de prazeres e luxos que não combina com o padrão de vida local.
Mas Vianne nem sabe bem o que busca, essa busca parece se esclarecer melhor ao leitor no decorrer das páginas do que para a protagonista. Ela só compreende no final. Ela acredita só estar buscando a felicidade e fornecendo a felicidade para as pessoas.


(...)E no que... se não for uma pergunta impertinente... no que você acredita? 
(...) 
- Buda. A jornada de Frodo para Mordor. A transubstanciação do sacramento. Dorothy e Totó. O coelhinho da Páscoa. Alienígenas do espaço. A Coisa do armário. A Ressureição e a Vida na virada de uma carta... 
Acreditei nisto tudo em uma época ou outra. Ou fingi acreditar. Ou fingi não acreditar. 
(...) 
E agora? No que acredito exatamente agora? 
- Acredito que ser feliz é a única coisa importante - disse-lhe finalmente. 
p.122

A história não se desenrola rapidamente. Como eu disse anteriormente, ela segue a vida. E a vida nessa pequena cidade parece pacata (embora saibamos que não é exatamente assim). Ainda assim a autora consegue nos manter constantemente entrosados. Não me senti em momento algum cansada com a leitura ou entediada.
Vão surgindo pequenos focos para o trabalho de Vianne: conseguir amigos, conservar os amigos de Anouk, Guillaume e seu querido cachorro definhando pelo câncer, Armand que anseia a reaproximação de seu neto, Joséphine que é cleptomaníaca e apanha do marido, a chegada dos ciganos, etc

Ora estamos centrados em compreender uma questão, mas em outros momentos desenvolvemos o problema no decorrer das páginas junto com seus personagens. E com a história de vida deles.
Algo que é muito tratado no livro é a questão da morte. E do sofrimento gerado pelas doenças. A falta de dignidade que nos predispomos para evitar a morte, prolongarmos por mais um dia a vida.

Mas a grande questão é o que fazemos para sermos aceitos pelos outros. O quanto nos sacrificamos e nos machucamos para corresponder ao que os outros esperam de nós, sem aceitar o que seria melhor a nós mesmos. Ou, por vezes, intervir para fazer o que é melhor a outrem. 

Achei o livro fantástico e para mim só peca na simplicidade do fim. Fico triste quando uma história se desenrola desse modo e o final emenda tudo muito rapidamente e de modo simplista.
Também fiquei com a sensação de que Vianne e a autora trabalham o livro inteiro buscando algo que rechaçam no sim. Não que eu seja contrária a ideia final, só acho que ela deveria ter sido melhor colocada.

A edição que li estava perfeita. Não lembro de ter encontrado erros. E, na minha opinião, com uma capa bonita e mais adequada.
Não sou fã de livros com fotos de pessoas, muito menos com capas de filmes. E definitivamente o filme foi apenas inspirado pela história aqui escrita. Os personagens não seguem o mesmo rumo, possuem expectativas diferentes. O que fez inclusive eu ficar um pouco confusa enquanto lia e tentava lembrar de um filme visto há mais de uma década.
Não recordava quem poderia ser o personagem de Johnny Deep, mas recordava de uma cena com ele que não apareceu no livro (depois fui pesquisar e vi que realmente as histórias não correspondem entre si).

Recomendo e fiquei muito interessada em outras obras da autora pelo seu estilo de escrita sedutora.
E definitivamente eu salivei a leitura inteira com as descrições divinas das preparações dos doces e de seus aromas.


Um pouco mais: Em Há sempre outro livro, comparação entre filme e livro em Devaneios, Leituras e reflexões, Crônicas de uma leitora.

Essa resenha fez parte do Desafio realmente desafiante de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
Minima Color Base por Layous Ceu Azul & Blogger Team