6.1.14

[1x52] Ignorar o pé esquerdo


Fim do ano passado eu fiquei meditando praticamente sobre a vida e sobre as mudanças que a gente se propõe em viradas de ano, ou quando algo ruim nos acontece e decidimos mudar.
Aí me perguntei quantas coisas eu desejaria fazer e experimentar, e quase considerei me desafiar mais. Fazer um projeto pessoal de tentar novos desafios. Foi quando percebi que muitas vezes eu acabo ignorando pequenas maravilhas de todos os dias.
É muito fácil a gente dar valor para um salto de para-quedas, e nem perceber aquele bom dia para o estranho na rua. 

Cheguei a conclusão de que para 2014 eu iria me propor a prestar mais atenção à vida todas as semanas, seja com o bom dia, seja pulando de para-quedas.

Eu tava pensando essa quinta-feira enquanto eu estava na moto com o Diego voltando para casa que meu dia 31 foi bem inusitado. Fui com a mãe tomar um banho de mar e um pouco depois que chegamos à praia começou a chover. Chover é um diminutivo carinhoso do temporal que caiu. Voltando para casa começou a cair pedras e eu passei a virada com dor de ouvido.
Só que tinha sido ainda em 2013 e eu estava considerando sabotar a primeira semana. Mas me dei conta daquele dia que eu estava vivendo.

Eu havia saído de casa para ir ao correio postar o livro da promoção, mas apesar de enfrentar o calor de 35 graus no sol das duas da tarde, eu cheguei lá e não consegui postar porque as coisas na Universidade ainda não estavam funcionando.
Voltei para casa no sol correndo porque o Diego estava indo me buscar para irmos à praia. Só que quando saímos, o sol já estava ficando tímido atrás das nuvens. Sequer teve consideração pelas muitas pessoas que estavam paradas na fila esperando para se bronzear na areia.
Mesmo de moto custamos a chegar e depois de quase três anos sem ir à Joaquina, eu me certifiquei que não dá mesmo para me privar da minha semi-privacidade na praia de casa, para ir lá disputar um quadrado de areia depois de pagar estacionamento e ficar ouvindo a música do farofão. 
O sol achou que se esconder não era o suficiente, então pediu para o vento ajudar um pouco e me deixar empanada para enfrentar a água gelada de lá.

Quando decidimos ir embora, eu quis comer pastel. Infelizmente sugeri irmos na casa do pastel, em que a atendente avisou que levaria de 30 a 45 minutos para sair o pedido (meu bom Deus, é pastel! É só rechear fechar e fritar! Tinha só umas 15 pessoas na nossa frente).
Resultado é que 1 hora depois, já tinha chovido, parado de chover, escurecido e o pastel não havia chegado. Quando finalmente chegou, as ervilhas que deveriam ter vindo no meu, devem ter feito um motim e abandonado sua capitã no barco-pastel, porque eu encontrei um único grão. Juro!

Mesmo agoniada, eu estava muito afim de ir tomar picolé de doce de leite (já que finalmente pareço estar abandonando o enjoo pós viver na Argentina). Quando eu cheguei no local, o rapaz estava atravessando a rua para ir comprar um Subway. Fiquei então esperando uns dez minutos, para descobrir que só havia de chocolate (não sou fã) e abacaxi. E nenhum me deixou com água na boca (visto que meu estômago estava explodindo).
Fomos embora sem picolé.

E aí, foi sentada na moto voltando para casa que eu estava tendo aquela conversa mental que narrei no início da postagem. Eu pensando na chuva de pedras. E algo cutucando meu cérebro para pedir atenção. E percebi que eu tinha passado um dia cheia de contratempos. E eu normalmente me irrito com eles (principalmente porque tenho prazer em reclamar).
Entretanto, eu estava feliz de estar ali na praia porque eu tinha ido trabalhar de manhã com chuva. Foi bem bom ficar conversando com o Diego apesar da areia. Quando eu fui tomar banho, a água não estava tão gelada quanto ele tinha dito, e fiquei triste de não poder molhar o cabelo para por o capacete porque eu não queria mais sair do mar. Eu sequer me importei muito com o atraso do pastel, não entendia, mas não me deixou brava. E eu fiquei inconformada de não ter comido o picolé, e feliz porque eu estava sendo gulosa.
Foi um dia que tinha tudo para me deixar com humor péssimo, ainda assim eu estava feliz. Sem motivos.

Era algo tão diferente do habitual que merecia essa consideração, de que precisamos muitas vezes esquecer o pé esquerdo. Que fazia sentido aquela frase que quando acordamos já sabemos se o dia vai ser bom, porque cabe grande parte a nós mesmos fazermos o dia bom.

Posso dizer que meu pé esquerdo continua me perseguindo*, e ainda não conseguiu espantar essa nuvem que me tem feito ignorá-lo.

Quem aí já aprendeu ou está aprendendo a ignorar "quando o mundo vira as costas para você" e não "virar as costas para o mundo"? 


* Na sexta eu saí da loja com um presente de vidro, caí na saída, me espatifei no chão, quebrei o presente e pifou a chave do carro. Ainda sim, eu continuei de bom humor. Tenho esperanças que possa ser permanente esse vírus.

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