6.1.15

[Resenha] Todo dia - David Levithan









Título: Todo dia
Título original: Every day
Autor(a):  David Levithan (site)
País: EUA
Ano publicação original: 2012
Editora: Galera Record
Páginas: 280




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(5/5)

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Não vi nenhuma resenha que tenha me desestimulado a ler o livro. Comprei um pouco depois da experiência fantástica que foi para a Aione. Achei que leria logo, só quis dar prioridade para alguns mais antigos... e aí o livro foi ficando para trás. Até eu escolhê-lo para ser meu livro da virada.

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Breve sinopse

A, desperta todos os dias em um novo corpo da sua idade. A cada dia há a oportunidade de ser menino, menina, alto, gordo, loira, depressiva, com pais separados, judeu...  A entendeu que o melhor modo é não interferir, apenas viver aquele dia, só que em um dia ele se apaixona por Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrar a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor.
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(...) O corpo é a coisa mais fácil à qual se ajustar quando se está acostumado a acordar em um corpo novo todas as manhãs. É a vida, o contexto do corpo, que pode ser difícil de entender.
p. 7

Aqui está um livro que gostaria de ter lido em inglês. Simplesmente pela possibilidade de assexualidade da língua. A é alguém (uma alma?) que todos os dias desperta num novo corpo, prestes a viver um dia a vida daquele corpo, mas também um pouco da sua vida. A não é homem, não é mulher. É alguém de 16 anos que não entende muito bem como e porquê é assim, no entanto, já aprendeu a aceitar essa condição e viver aproveitando as oportunidades, buscando não interferir na vida das pessoas.

Só que então, alguém interfere na sua vida.
Rhiannon transforma tudo nele numa vontade gigantesca, maior do que todas as que já possuiu, de ter um corpo para todos os dias estar sempre ao seu lado.

E esse poderia ser mais um romance com uma ideia absurdamente fantástica por trás, só que ao meu ver, o romance dos dois é que serve de plano de fundo para uma história fantástica.

Chega uma hora em que o corpo domina a vida. Chega uma hora em que as necessidades do corpo, as carências do corpo ditam a vida. Você não tem ideia de que está oferecendo a chave ao corpo, mas entrega a ele assim mesmo. Então, ele assume o controle. 
p. 56

Embora o sentimento entre ambos e o relacionamento que vai se abrindo a partir dessa mudança em A seja interessante, porque gera algumas reflexões sobre o amor, sobre os relacionamentos e porque é terno. Eu praticamente descartaria essa parte do livro. É que os personagens são bons, mas fora isso, é quase como mais uma história de amor adolescente. E já li várias, você já leu várias. Algumas são mais marcantes, outras mais lindas, há as que tem personagens absurdamente ótimos e com frases que você quer manter para a vida.
Aqui a situação de vivenciar diferentes vidas é que me marcou profundamente. Eu queria saber sobre as possibilidades de desenvolvimento da história romântica, porém ficava é me revirando sobre as diferentes vidas e contextos vividos todos os dias. Em especial, porque David Levithan é um autor tão maravilhoso, com um olhar tão apurado para a vida, que consegue escrever para jovens e me leva a pensar que pode fazer a mudança na vida das pessoas que o leem.

(...) Ele não quer ver isso. Lamenta o que está acontecendo. odeia até. Mas não a ela. Ele continua a ler porque, mesmo que odeie a situação, ele não a odeia.

- Kelsea... - gagueja

Queria que ela pudesse ver como isso o atinge. A expressão no rosto dele, sua vida desmoronando. Porque aí  talvez ela percebesse, ao menos por um milésimo de segundo, que, embora o mundo não importe para ela, ela importa para o mundo. 
p. 118

Quando temos o despertar na vida de um viciado, deixamos com que Levithan realmente nos leve a compreender aquele contexto. Não há um julgamento, não existe a busca para entender o que o levou aquilo e porque se mantém ali. Ele nos traz friamente a situação e toda sua complexidade.

Ele nos mergulha na nuvem da depressão. Na nuvem densa que chacoalha o leitor que já se deparou ou jamais pensou em se deparar com aquela cena. Emociona ao nos questionar o que pode ser feito.

E quando ele escreve o capítulo que termina com "o e-mail não é uma opção", eu me senti tão comovida pela natureza de cotidiano. A menina que precisa trabalhar para se sustentar, que não importa sua saúde, que a única fortaleza é companhia da irmã.

Ou sobre estar tão absurdamente entorpecido por uma dor que é impossível acessar suas memórias, ou sobre ser tão mordaz por dentro que a felicidade parece depender de alfinetar os outros.

Na manhã seguinte, acordo no corpo da Beyoncé.
Não a Beyoncé de verdade. Mas um corpo extraordinariamente parecido com o dela. Todas as curvas em todos os lugares certos.
(...)
Eu não sou bonita. Eu não sou linda.
Sou absolutamente maravilhosa.
p. 129

Ele não conseguiria nos mostrar todos os tipos de vida e de adolescentes existentes.
Ele talvez não consiga convencer Rhiannon ou o leitor que o amor é o amor independente do sexo do corpo daqueles que amam. Talvez essas páginas não sejam suficientes para transformar o mundo em algo tão doce e profundo como a história de Dawn e Vic.
Ao menos ele tenta, continua tentando quando ele retrata que numa infinidade de diferenças, a vida das pessoas e as pessoas são muito semelhantes. Isso é o que permite que ele consiga todos os dias viver diferentes vidas. Isso também poderia ser o suficiente para que passássemos a aceitar melhor os outros.

Ao longo dos anos, fui a muitas cerimônias religiosas. Cada uma que frequento apenas fortalece minha impressão geral de que as religiões têm muito, muito mais em comum do que gostariam de admitir. As crenças são sempre as mesmas; apenas as histórias diferem. Todas as pessoas querem acreditar num poder superior. Todas querem pertencer a algo maior do que elas mesmas, e todas  querem companhia ao fazer isso.  Querem que haja uma força do bem na Terra; e querem um incentivo para fazer parte disso. Querem ser capazes de demonstrar sua crença e sua participação por meio de rituais e de devoção. Querem tocar o que é grandioso.
É somente nos pontos mais delicados que fica complicado e controverso, a incapacidade de perceber que, não importa qual seja nossa religião, sexo, raça ou localização geográfica, todos nós temos cerca de 98 por cento em comum com todos os outros. (...) E quanto à religião, quer você acredite em Deus, Javé, Alá ou qualquer outra coisa, é provável que, em seus corações, vocês queiram a mesma coisa. Por uma razão qualquer, nós nos concentramos nos dois porcento de diferença, e a maior parte dos conflitos que acontece no mundo é consequência disso.
p. 69

Um livro estupendamente imperdível. Fiquei encantada com a leitura que fluiu tão perfeitamente que me entristeceu chegar ao fim.
De um certo modo, o contexto do romance me recordou demais A mulher do viajante no tempo e as dúvidas e aflições de Rhiannon pareceram um pouco o que Clare enfrentou. Só que Clare jamais sabia quando perderia Henry e por quanto tempo. Henry era sempre Henry. Aqui, uma menina tem que aceitar que todos os dias tem a dúvida da presença da pessoa somada a necessidade de se apaixonar não apenas por quem está dentro do corpo, mas também um pouco pela vida da pessoa do corpo.

Enfim, aqui fica a dica de uma leitura que nos leva a um milhão de possibilidades.

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