24.2.15

[Resenha] Garoto encontra Garoto - David Levithan






Título: Garoto encontra garoto
Título original:  Boy meets boy
Autor(a):  David Levithan (site)
País: EUA
Ano publicação original: 2003
Editora: Galera Record
Páginas: 240




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(4/5)

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Durante o Carnaval decidi embarcar na Maratona Literária. Eu dei azar de não conseguir seguir exatamente como pretendia e ter sido interrompida diversas vezes, mas eu comecei de bom humor porque eu tinha recém terminado esse livro maravilhoso.

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Breve sinopse

Paul vive numa cidade um pouco incomum, especialmente sua escola. Ao sair com seus amigos ele se apaixona por um garoto novo na escola: Noah. Parece que Paul finalmente stá se apaixonando de verdade, mas o que parecia simples pode se complicar quando ele tenta se envolver com os problemas dos outros.

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Mudamos para outra língua; não a nossa língua inventada e nem a língua que aprendemos na vida. Enquanto andamos mais no bosque e subimos a montanha, falamos a língua do silêncio. Essa língua nos dá espaço para pensar e nos movemos. Podemos estar ao mesmo tempo aqui e em outro lugar.


p. 118

Você pode começar lendo um livro pela capa, pelo autor, por que ouviu falar bem. Não importa muito bem o motivo quando você abre e se apaixona logo nas primeiras páginas.
Eu simplesmente me encantei pelo universo apresentado pela vida de Paul.

Paul e seus amigos estão assistindo o show de um conhecido numa livraria, inusitadamente ele está lá dançando entre as estantes e se apaixona. Noah estuda na mesma escola, é novo, e embora Paul custe a reencontrá-lo, ele sabe que o que possuem é especial.

É uma história de amor clichê, a única diferença é que temos um casal homossexual. Mas para falar de adolescentes, mesmo num universo tão diferente como o que temos aqui, a desenrolar não poderia ser tão simples.
Noah teve um passado triste. Paul também. Só que a boa índole de Paul que o faz ajudar a todos, parece ser aquilo que afastará o seu grande amor.

Enquanto ele tenta viver essa relação e lidar com os problemas dos amigos que tanto ama, vamos acompanhando as páginas que nos revelam uma história bem simples no seu aspecto geral, e absolutamente rica em criatividade.

(...) Poderia argumentar que nem sempre é fácil saber quem você é e o que quer, porque aí você não tem desculpa para não tentar conseguir o que quer.
p. 175

O que realmente chama atenção em Garoto encontra garoto está longe de ser o romance. Perdão aos gays, não é nada contra a relação dos dois que é bem água com açúcar. Se fosse por isso apenas eu teria largado o livro lá nas duas estrelinhas.
Eu adorei a cidade do Paul. 

Em determinado momento há um trecho em que "jogam na cara dele" o quanto ele é sortudo pela vida que tem e por saber quem é.
E sim, aí temos o espetacular da obra. David Levithan criou um mundo de sorte para o Paul. Uma cidade diferenciada, uma família incrível que aceita e lida tranquilamente com sua homossexualidade. Acima disso, ele criou uma escola bem maluca e extraordinária.

Você consegue imaginar uma escola de ensino médio em que os homossexuais são tratados com naturalidade, ou ao menos "certa" naturalidade?
Eu gostaria que ela existisse e sonho que passe a existir, mas nem consigo imaginar algo próximo a isso na minha realidade. Acontece que escola de Paul a rainha do baile é um travesti. E bem, esse travesti é também o quarterback do time de futebol. E o atual namorado da melhor amiga de Paul,  ele já foi apaixonado e rejeitado pela esplendorosa Infinite Darlene. E isso não parece ser exatamente um motivo de piada entre seus companheiros de time.

- A questão é queeu não estou vulnerável desta vez - explico. - Não significa tudo pra mim.
- Você sabia que estava vulnerável da outra vez?
Essa pergunta eu consigo responder com confiança.
- Sim. É claro. Se apaixonar é isso mesmo.
Tony suspira.
- Eu não teria como saber.
A parte de mim que sente saudade de Noah agora tem uma parte igual em Tony. A diferença é que a saudade dele não tem nome e nem um rosto.

p. 116

É um mundo ideal, utópico, e quase fantasioso para os dias atuais.
O autor, no entanto, brinca com a transposição desse lugar com a vida de Tony. O rapaz que tem pais que não conseguem entender e aceitar o filho como é, que o obrigam a primeiro esconder seus anseios e seu amor por garotos, depois a aprender a enfrentar.

Tony também é um garoto real porque sonho com um amor que ainda não o encontrou, assim subitamente num momento fugaz (como com Paul). Tony é a realidade, Paul a beleza do que poderia ser. E ambos são amigos, convivem, se encontram, se compreendem e se entendem na língua criada e no silêncio.
Chego a me perguntar se é um modo de o autor dizer "não estou pirando, a gente pode chegar ao momento em que realidade e idealismo se encontram e se abraçam" como esses dois amigos.

Chuck, o tal namorado machão (não tão machão ao ponto de não se interessar por um transexual), mantem a realidade, já que é o personagem que não cede. Ele não muda, ele não aceita.

O que me leva a dizer que Garoto encontra garoto não é um daqueles livros que simplesmente fazem a gente pirar lendo, ou que promovem uma mudança repentina e espontânea pelas belas palavras durante a leitura. É um livro daqueles em que a gente vai lendo e absorvendo, se pega muitas vezes pensando e repensando nas minúcias que sabiamente o autor deixou espalhadas e dispersas no texto fluido.

(...) Simplesmente supus que garotos se sentiam atraídos por outros garotos. Por que outro motivo passariam todo o tempo juntos, jogando em times e rindo das garotas? Eu achava que era porque todos nós gostávamos uns dos outros. Ainda não sabia direito onde as garotas se encaixavam na história, mas achava que sabia que a coisa entre meninos era normal. 
p. 17

Obrigada David Levithan por continuar sendo voz num mundo que precisa dela. :) E encantando nossas leituras.

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