14.10.14

[Resenha] O segredo dos seus olhos







Título: O segredo dos seus olhos
Título original: La pregunta de sus ojos
Autor(a):  Eduardo Sacheri
País: Argentina
Ano publicação original: 2005
Editora: Suma das letras
Páginas: 212




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(5/5)

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Ontem eu e o Diego comemoramos um mês de casamento. O primeiro livro que li na nossa casa foi este e acho que é a escolha perfeita para postar no dia de hoje.
O segredo dos seus olhos, livro que inspirou o filme ganhador do Oscar com uma das mais belas histórias de amor. Afinal, apesar de tudo esse livro trata de muitos tipos de amor. Amor doentio, amor necessidade, amor platônico, amor que se sustenta ao amar.

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Breve sinopse

Benjamín Chaparro se aposentou e decide escrever um livro. O livro conta a história de um caso ocorrido nos anos 70 em Buenos Aires, uma jovem dona de casa é violentada e assassinada deixando seu jovem marido e estado de desolação. Às vésperas da ditadura militar Argentina, ele se comove e acaba se envolvendo na resolução do caso.
O romance acaba sendo uma desculpa de retornar ao juizado em que trabalhou para discuti-lo com sua companheira de trabalho, por quem nutre um amor platônico.

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(...)A gente não vê a dor. Não pode vê-la, simplesmente porque a dor não é visível, em nenhuma circunstância. No máximo, podem-se ver alguns de seus mínimos sinais exteriores. Mas esses sinais sempre me pareceram máscaras, mais do que sintomas. Como pode o homem expressar a angústia atroz de sua alma? Chorando em bicas e dando berros? Balbuciando palavras desconexas? Gemendo? Derramando umas poucas lágrimas? Eu sentia que todas essas demonstrações de dor só eram capazes de insultar essa dor, de menosprezá-la, de profaná-la, de colocá-la ao nível de amostra grátis.
p. 33

Em capítulos em que a narrativa se alterna entre o presente e 'os capítulos do livro escrito', conhecemos a história de Chaparro. Este recém aposentado que decide pedir uma máquina de escrever emprestada no juizado em que trabalhava para se tornar um escritor novato.
O tema da história é dedicado a Ricardo Morales, jovem que teve a mulher (Liliana Coloto) violentada e assassinada em casa. O caso está sob juridição do juizado em que Chaparro trabalha e o amor de Morales por sua esposa motiva Chaparro a prometer auxiliar no que puder na sua resolução que parece improvável.

O amor de Morales que inspira Chaparro, o faz constantemente refletir sobre o amor que sente pela Juíza Irene. Que o leva refletir se está escrevendo um livro sobre Morales e o caso se Liliana, ou sobre ele mesmo.

Ninguém é capaz de ler, na borra do presente, os sinais das futuras tragédias
p. 41

Que livro delicioso! Sim, porque quando encontramos um autor que escreve fluidamente, com palavras que nos tocam, que nos sugere pensamentos jamais ocorridos... Não é possível desgostar.
Estou ansiosa para ler mais obras de Eduardo Sacheri. Em especial se elas me ajudarem não só a caminhar pelos meus pensamentos, mas puderem me fazer caminhar novamente pelas ruas de Buenos Aires revivendo o tempo em que lá vivi.

Li algumas críticas negativas sobre o livro, que me parecem quase incompreensíveis. É que em alguns momentos sentimos o autor divagar. Um capítulo ou outro parecem não se encaixar ou ser desnecessário a trama. O que, para mim, dão um toque legítimo ao texto que ele se propôs a publicar. É como se estivéssemos diante de um Chaparro que escreve no decorrer dos dias, por vezes recorda um fato diferente ou dá mais importância a uma lembrança que lhe é cara. E num outro momento se restringe a narrar os ocorridos fielmente.

Noto isso em especial quando ele passa a nos falar de Sandoval, o amigo e colega de trabalho que custamos a compreender a razão de ser mencionado lá nos primeiros capítulos.

-Sabe o que  é o pior de tudo?
(...)
-Que estou começando a esquecê-la.
(...)
- Penso, penso e penso nela o dia inteiro. Acorda à noite e me levanto de manhã lembrando-me dela. Mas acabo tendendo a lembrar sempre as mesmas coisas. As mesmas imagens. O que eu lembro, então? Ela ou a lembrança que construí neste ano e tanto depois de sua morte?
p. 98

Eu gostaria de poder comparar um pouco com o filme, mas já o assisti há muito tempo e fiquei com a lembrança da história geral apenas. Ainda assim me pareceu que as obras foram muito semelhantes, embora concorde com alguns dos pontos ressaltados nessa postagem (em espanhol). A relação de Benjamín e Irene fica mais evidenciada e interessante no filme. O mesmo também tornou a história um pouco mais dramática, algo típico as telonas.
Entretanto, muito da poética se diluiu. E o 'argentinismo' que incomodou Eduardo Larequi, me encanta mesmo que tenha lido a versão traduzida. Acredito que o que faltou a versão espanhola foram notas de referência. Afinal, curto bastante as sutilezas como o sobrenome Chaparro a um homem alto, quando o termo supõe alguém atarracado.

(...) Parece que, quando as coisas não podem ser ditas, os olhares se carregam de palavras.
p. 83

Para mim, esse é um daqueles exemplos em que livro e filme não se invalidam. As histórias apresentam pouquíssimas divergências, entretanto o valor não está exatamente na sequência de fatos que levam a um final, mas no modo como são contadas. Esse modo levemente diferente, faz com que as experiências sejam distintas.

Recomendo muitíssimo. Tenho vontade de reler logo para resgatar várias passagens. E deixo aqui meu comentário a tradução do título para o português que me agrada mais que o original. Enquanto que o nome oficial em espanhol para mim faz referência mais direta ao encerramento do livro, o nome em português com a palavra 'segredo' agrega a fantástica passagem quando Chaparro diz que se reconhece no olhar do rapaz da fotografia.

Repito, um livro com uma linda história que juntamente nos instrui superficialmente sobre a passagem histórica da Ditadura Militar Argentina (livro pro Bola da leitura), com reflexões belíssimas, personagens interessantes (como Sandoval e o inspetor Baéz) e surpresas para o leitor. Enfim, leitura para agradar diferentes gostos.

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